Projeto “Escritores em Ação” começou como atividade paradidática durante a pandemia e incentivou a produção e leitura
Um projeto elaborado durante a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) em uma escola municipal de Itaquaquecetuba chegou à etapa intermediária do Prêmio Jabuti, o maior prêmio literário do País, pelas mãos da professora municipal Icélida Alves Pereira.
O projeto começou na pandemia como uma atividade paradidática para ajudar os alunos a prosseguir no ensino remoto. A ideia começou um pouco antes, com a definição do mascote da turma durante as aulas remotas, onde uma das ideias era “O Livro que Cura”. “A partir deste personagem surgiu um estalo, que se uniu à vontade de escrever um livro – apresentei a ideia para a direção, que me deu o apoio e começamos a desenvolver”, conta a professora.
O primeiro projeto, que surgiu como um “diário de bordo” contando as vidas e as rotinas dos alunos durante o período de isolamento, contou com 16 alunos que compartilharam textos, contos, relatos e ilustrações. Icélida conta que o engajamento da turma foi surpreendente, com o lançamento do livro no final de 2021: “O momento da entrega foi uma celebração por conta do momento que vivemos juntos, tanto os alunos, quanto suas famílias e nós como professores. Neste primeiro livro, onde a capa foi feita pelos alunos, pudemos também prestar homenagens à mãe de uma aluna que morreu em decorrência da Covid-19”, relembrou.
No ano seguinte, em 2022, a iniciativa continuou com o projeto “Escritores em Ação”, onde o formato foi expandido para além do dia-a-dia na pandemia, mas outros temas foram trazidos pelos alunos e em outros formatos: da poesia à prosa, passando pelas ilustrações. Com isso, o envolvimento dos alunos aumentou e, segundo a idealizadora, o empenho e a qualidade dos textos evoluíram. “Os alunos começaram a trazer mais coisas, novos pontos de vista, começaram a explorar outros materiais e aumentar o debate”, contou.
A professora também falou sobre a oportunidade de conhecer uma face dos alunos para além do período em sala de aula, e como isto ampliou o olhar sobre as experiências de cada um dos seus alunos. Icélida lembra que um dos grandes desafios do profissional de Educação é formar um vínculo com o estudante, e que nas produções para os livros era possível adentrar um pouco em seus mundos. “Mesmo com duas linhas que ele escrevia era possível ver além, descobrir como ele pensa e o que acha de um determinado assunto, seus gostos e talentos. Foi uma oportunidade rica conhecer o que gostam”, apontou.
O projeto recebeu, no último mês, o reconhecimento por meio do prêmio “Educador em Ação”, promovido em uma parceria entre a comunidade educativa Cedac, a Secretaria de Educação de Itaquaquecetuba e a TV Diário, alcançando o segundo lugar entre 54 projetos da rede municipal. O “Escritores em Ação” também chegou a ser inscrito para o prêmio Jabuti 2023 no eixo Educação, na categoria “Fomento à Leitura” e foi classificado na primeira etapa, mas sem chegar à seleção dos dez semifinalistas nacionais.
Para 2023 e 2024, Icélida conta com uma nova turma, e afirma que vem trabalhando com outros temas e formatos, como a releitura de contos famosos, literatura de cordel e a educação antirracista. “É importante trabalhar estes temas, que são uma crescente em nossa sociedade, como a questão da depressão infantil. Espero que todos se sintam encorajados”, concluiu.